Fazendo hamburguer

Quantas vezes ignoramos que uma decisão qualquer pode se tornar permanente, simplesmente por não ter volta. Certa vez, enquanto procurava um programa que pudesse gerar código C (a linguagem de programação) a partir de um executável (o descompilador de C, para os computeiros), li a frase “você pode transformar uma vaca em um hambúrguer, mas não pode fazer o hambúrguer voltar a ser uma vaca”, exemplificando porque não era possível fazer o que eu queria.

Muitas coisas que fazemos na vida são como o hambúrguer: não podemos ter a vaquinha que nos dava leite todos os dias de volta, mas ainda assim acabamos matando a vaca e fritando o hambúrguer por passar algumas horas de fome. Fome que, na verdade, era só vontade de comer, a maioria de nós não sabe o que é fome.

O imediatismo que nos obscura o raciocínio pode resultar em um hambúrguer cru demais e na perda do resto da carne, se não temos fome suficiente ou capacidade para armazenar corretamente esta carne. Isso acontece ainda que sejam dedicadas horas ou dias de reflexão para uma tomada de decisão. O imediatismo não significa apenas decidir rápido, mas o horizonte no qual se pauta a decisão.

E não só decisões drásticas, dessas que mudam a vida, são irreversíveis. Nossas palavras também podem trazer muitos pregos que vão marcar para sempre a tábua e de nada vai servir arrancá-los, pois a tábua vai, para sempre, apresentar as cicatrizes. Talvez utilizando técnicas mais avançadas de marcenaria, possamos fazer uma massa de madeira e cobrir os furos, mas a tábua jamais será a mesma.

Não acho que a saída seja a covardia ou a omissão, acredito na ampliação dos horizontes ao ponderar sobre uma decisão mais dramática e na avaliação da maneira como falamos com as pessoas.