Dahlia

Há muito tempo. Muito tempo mesmo não acontecia. Mas dessa vez era novo e a novidade não passava despercebida. Não havia como controlar o entusiasmo. Sendo assim, cinco dias depois se encontraram.

O encontro foi como todo primeiro encontro. Só que dessa vez o primeiro encontro durou trinta segundos. Depois disso já eram velhos conhecidos e a naturalidade fluiu daí. Brincadeiras de velhos amigos voltaram, afinal há muito não se viam.

Só que não era possível rememorar desde quando. Foi simplesmente um lapso entre o início e aquele momento ali, de naturalidade. Um café era o combinado. Mas o filme surgiu na frente e tomou espaço. Aquele espaço que estava ali, desde sempre. Foi tomado pelo filme e pela ocasião.

Os olhos se olhavam, os corpos se atraíam. Era a primeira vez, mas já há muito tempo. Tudo estava claro e o que não estava tinha a luz logo ali. Ela não tem problemas em deixar tudo claro. Seus negros olhos pediam, a conversa conduzia pela mão. Tal criança titubeando os primeiros passos. Há muito tempo. Muito tempo mesmo!

Uma pergunta; um olhar; a dúvida. Tudo isso não existe. Só existe o todo, que por breve momento foi parcial, já que a outra parte não estava. E esta parte que aqui estava vislumbrava a outra parte ali e o todo se formando.

Até que o todo não pode mais deixar de sê-lo. E assim se fez. O todo inteiro. Não na explosão da fusão, sem limites e desenfreada. Mas na delicadeza do cálculo preciso e necessário, ainda que todo emoção. Aquele toque que nunca sentira, tão delicadamente forte.

O que se segue é apenas o que já havia. Tudo estava ali, só não estava descoberto. Na descoberta o novo se torna velho conhecido. Ela e sua presença tinham a magia do novo com a segurança do velho conhecido. E isso, sim, era novo.