Será que é possível ser feliz fazendo o que se gosta? Se eu fosse um universo fechado em mim mesmo, diria que sim. Minha percepção um pouco mais abrangente já não é a mesma. Quando falo em fazer, estou me referindo em fazer para ganhar dinheiro, para ter um meio de sustento.
Em conversas com amigos e conhecidos acabei percebendo que esta é uma questão muito mais recorrente do que imaginava. São muitos os que sofrem por não conseguirem trabalhar no que gostam. Outros tantos não sabem do que gostam.
Eu tenho a sorte de saber muito bem do que eu gosto. Tenho, ainda, uma maior sorte por trabalhar com o que gosto. Não sei se trabalho no que mais gosto, mas também não sei se sei ordenar as coisas de que mais gosto. Vendo desta maneira, até eu que me considero bem decidido, não sou tão direto.
“Fazer o que gosta” não é uma definição fácil. Algumas pessoas começam fazendo o que gostam na faculdade. Estudam jornalismo, geografia, história, música. Depois o mercado de trabalho se mostra hostil, não há muitas vagas naquelas áreas específicas dentro desses grandes grupos de conhecimento. Acabam trabalhando dentro do que foram formados, mas em subáreas que são consideradas chatas. A necessidade acaba levando as pessoas a trabalharem nestes lugares pouco agradáveis e se tornam infelizes fazendo o que supostamente gostam.
Daí vêm os questionamentos: devemos procurar fazer o que gostamos para ser felizes? Este fazer o que gosta deve ser realmente o que nos dá sustento? Só seremos felizes se fizermos o que gostamos na maior parte do tempo?
No meu ponto atual de observação, começo a achar um pouco ingênua a afirmação “faça aquilo que gosta e não terá de trabalhar um único dia na sua vida”. Quantos fazemos o que gostamos e temos a sensação clara de que trabalhamos muito, sim. E estou falando de mim, empresários, músicos, poetas, engenheiros, confeiteiros, artistas plásticos, atletas. Trabalho é transpiração, como já disseram, mesmo nas atividades criativas. Para um resultado legal, que nos traz a sensação de realização e nos faz gostar do que fazemos, comumente há muitas etapas mais desagradáveis por onde precisamos passar. Estas etapas representam a transpiração.
Por mais que eu ame o que eu faço, há muitas pequenas tarefas necessárias que não são nem remotamente divertidas. Mas quanto mais eu faço o que preciso e o resultado fica mais próximo, mais recompensadoras estas tarefas me parecem. Assim elas deixam de ser chatas.
Com as dificuldades que vejo em certas profissões ou áreas, talvez o caminho seja ver as realizações e ter alegrias em conquistas isoladas dentro do trabalho do dia à dia. No final das contas, mesmo fazendo o que gosto, é assim que acaba acontecendo comigo e, creio, com tantos outros. Não estou dizendo que não devemos procurar fazer o que gostamos. Devemos. Mas estas pequenas buscas de conquistas são igualmente importantes.